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Jamil Chade

ONU alerta para discurso que legitima execuções e violência policial

Jamil Chade

23/09/2019 10h22

Sede da ONU, em Genebra. Foto: Jamil Chade

 

Entidade confirma que recebeu denúncia de movimentos de Favelas no que se refere à morte de Ágatha.

 

GENEBRA – O alto comissariado da ONU para Direitos Humanos confirmou que recebeu uma denúncia de movimentos de favelas do Rio de Janeiro por conta da morte da garota Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos de idade.

A iniciativa foi liderada pelas entidades Papo Reto, Fórum Grita Baixada, Instituto Raízes em Movimento, Fórum Social de Manguinhos, Mães de Manguinhos, Movimento Moleque, Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência e Arquitetxs Faveladxs, em conjunto com a organização de direitos humanos Justiça Global.

A denúncia visa o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel e contra o Estado Brasileiro pela execução da menina. Na sexta-feira, Ágatha foi atingida por um tiro quando seguia para casa acompanhada de seu avô, na favela da Fazendinha. Ágatha foi levada à UPA do Alemão, mas não resistiu aos ferimentos. "Podemos confirmar que recebemos a carta", afirmou a ONU, por meio de uma porta-voz.

A entidade destacou que, recentemente, a alta comissária Michelle Bachelet "expressou preocupação sobre a violência policial no Brasil". "Ela insistiu sobre como a violência policial está afetando de forma desproporcional as pessoas de descendência africana ou pessoas vivendo em favelas", disse.

"Além disso, ela expressou preocupações sobre o discurso público que legitima as execuções sumárias e o fato de que esses assassinatos estão ocorrendo em um contexto em que há uma ausência de responsabilização", disse.

Os comentários de Bachelet, na semana passada, deixaram o governo brasileiro irritado. O presidente Jair Bolsonaro rebateu, fazendo apologia ao regime de Augusto Pinochet, responsável pela morte de seu pai.

Neste domingo, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos – orgão da OEA – também se pronunciou, pedindo a "identificação e determinação de responsabilidades pela morte da menina Ágatha, durante uma operação policial no Rio de Janeiro".

"O Estado deve investigar de maneira urgente e diligente, e sancionar os responsáveis", declarou a entidade internacional.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)