Tensão na fronteira obriga chefe da ONU a cancelar visita a Pacaraima
GENEBRA – Num sinal claro da tensão que a fronteira entre o Brasil e a Venezuela vive, o alto comissário das Nações Unidas para Refugiados, Filippo Grandi, foi obrigado a cancelar uma visita que faria à Pacaraima para avaliar a situação dos refugiados venezuelanos neste fim de semana.
A cidade viveu dias de tensão, com o comércio fechado. Um protesto foi organizado em que os manifestantes entoaram gritos de "Fora Venezuelanos, Fora ONU!".
Grandi, número 1 da ONU para Refugiados, foi aconselhado pelas autoridades brasileiras a não ir até a região e limitou sua visita a Boa Vista e Brasilia. Num comunicado inicial, a agência previa Pacaraima no roteiro. Coube ao prefeito da cidade de fronteira ir até Boa Vista para uma reunião com o representante da ONU.
No domingo, de Brasilia, Grandi fez um apelo para que a comunidade internacional ajude a financiar a operação para atender aos venezuelanos que deixam o país. Seu temor é de que, sem recursos, cidades brasileiras se transformem em locais de extrema tensão, com serviços sobrecarregados, reações xenófobas e uma hostilidade cada vez maior contra os venezuelanos.
No final de 2018, a ONU fez um apelo por US$ 738 milhões para sair ao socorro dos imigrantes e refugiados venezuelanos. Sete meses depois, a entidade recebeu apenas 24% do valor.
Por dia, 500 pessoas ainda entram no Brasil, vindos da Venezuela. No total, são 180 mil venezuelanos hoje no País.
"O impacto sobre as comunidades anfitriãs em estados como Roraima e Amazonas tem sido esmagador", alertou Grandi. "Disseram-me que, em algumas comunidades fronteiriças, 40% dos pacientes e 80% das mulheres que dão à luz em hospitais são da Venezuela. Houve um impacto semelhante na educação, no emprego, na habitação e nos serviços sociais", disse.
"É vital que os esforços das autoridades nos níveis federal, estadual e municipal, bem como da sociedade civil, grupos da Igreja e brasileiros comuns, sejam adequadamente apoiados pela comunidade internacional. A população local tem estado na vanguarda da resposta às necessidades dos refugiados e migrantes venezuelanos. Eles não devem ser deixados sozinhos", apelou.
Sua recomendação é ainda a de que sejam acelerados os programas de transferências de refugiados da região Norte do Brasil para o restante do país.
Até agora, mais de 15 mil venezuelanos foram realocados do estado de Roraima para mais de 50 cidades onde há mais oportunidades de integração, aliviando assim a pressão sobre as comunidades fronteiriças.
"Estou muito impressionado com ambas as operações como exemplos de uma resposta eficiente, coordenada, humana e inovadora para atender às necessidades humanitárias e promover soluções para os venezuelanos", disse Grandi.
"No entanto, muitos desafios permanecem devido ao número crescente de chegadas. Em minhas visitas, foram levantadas questões importantes sobre a situação da população indígena venezuelana, as condições precárias de muitos venezuelanos que vivem fora dos abrigos oficiais e o impacto sobre a infraestrutura e os serviços locais. Os governos federal e local, com o apoio da sociedade civil e do sistema da ONU, precisam agir urgentemente para atender às necessidades de saúde, educação, subsistência e outras necessidades críticas".
Hoje, mais de 4,3 milhões de venezuelanos já deixaram o país. Mas o Brasil não é o principal destino. A Colômbia já recebeu 1,2 milhão de venezuelanos, seguido pelo Peru, Chile e Equador.
No atual ritmo, mais de 5 milhões de venezuelanos estarão vivendo fora de seu país até o final do ano.
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