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Jamil Chade

França avaliará desmatamento no Brasil para ratificar acordo com Mercosul

Jamil Chade

30/07/2019 19h14

Pelo interior da França, agricultores e sindicatos fazem protesto contra acordo com Mercosul (CRÉDITO: FDSEA)

 

GENEBRA – Pressionado por agricultores, ambientalistas e pela oposição, o governo de Emmanuel Macron decidiu criar uma comissão de especialistas independentes para avaliar o impacto do acordo entre a UE e o Mercosul. Dez economistas e peritos vão examinar o impacto ambiental do tratado, assim como suas consequências para a saúde e para os produtores franceses.

A comissão revela a resistência que Paris apresenta para ratificar o tratado, negociado durante 20 anos. A criação do grupo ocorre justamente no momento que a França envia seu chanceler, Jean-Yves Le Drian, ao Brasil.

Ele, porém, foi esnobado pelo presidente Jair Bolsonaro que, de última hora, cancelou o encontro que tinha com o francês e foi cortar o cabelo.

Do lado de Paris, a criação da comissão ainda é um recado por parte do governo de que não assinará o acordo a qualquer preço. Nesta semana, depois de o Legislativo francês aprovar um acordo comercial com o Canadá, as sedes do partido de Macron no interior do país foram alvo de vandalismo, em protesto principalmente por parte de agricultores.

Agora, o próprio ministro da Agricultura, Didier Guillaume, já indicou que, "em seu estado atual, o texto do acordo com o Mercosul não é ratificável".

O grupo de especialistas será liderado pelo economista Stefan Ambec, especializado em meio ambiente. De acordo com o gabinete do primeiro-ministro, Edouard Philippe, os primeiros resultados do trabalho serão anunciados apenas em novembro.

Entre os pontos avaliados estará o efeito do acordo em termos de emissões de gases de efeito estufa, desmatamento e biodiversidade".

Caso riscos sejam identificados, a nova comissão apresentará recomendações para emendar o texto e preparar o posicionamento político da França diante de um debate sobre a ratificação.

A mesma comissão ainda avaliará o impacto sobre os agricultores franceses, diante da concorrência dos produtos sul-americanos.

Além do economista, farão parte da comissão especialistas nas áreas agrícola, sanitária, jurídica, social e geopolítica.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)