“Queremos diálogo”, diz líder independentista catalão
GENEBRA – Carles Puigdemont chacoalhou a Europa há cerca de 20 meses, organizando sem a autorização do estado espanhol uma votação na Catalunha para determinar sua independência, uma reivindicação histórica. O voto ganhou as manchetes de todo o mundo diante de incidentes de violência por parte da polícia espanhola e abriu um profundo mal-estar na sociedade catalã, dividida.
Puigdemont teve de se refugiar na Bélgica, enquanto alguns de seus aliados estão na Suíça e outros tantos presos. Em entrevista exclusiva ao blog em Genebra onde participava de um seminário, o líder catalão deixa claro que não abriu mão de seu projeto e defende um diálogo com o estado espanhol.
Na semana passada, ele esperava assumir sua cadeira no Parlamento Europeu. Mas teve sua posse negada. Nas eleições, partidos que defendem a independência da Catalunha ganharam quatro dos 54 lugares no Legislativos em Estrasburgo. O partido de Puigdemont ficou com 1,7 milhão de votos e terminou na primeira colocação na Catalunha, com 28,5% dos votos.
Mas a Junta Eleitoral espanhola não incluiu seu nome na lista dos eleitos, ao enviar os resultados para a UE. O motivo: a acusação contra o líder separatista de ter organizado de forma ilegal o referendo em 2017, promovendo a independência da Catalunha.
A Justiça Europeia, assim, decidiu que Puigdemont não pode tomar posse como eurodeputado. Vivendo na Bélgica desde que deixaram a Espanha para não serem presos, há um ano e oito meses, ele ainda espera reverter a decisão.
"Está em jogo, além da credibilidade da democracia europeia, os votos de mais de 2 milhões de europeus que votaram por minha candidatura ou de outros líderes. Eles podem ficar sem essa representação. se pudemos nos apresentar para a eleição e de tivemos votos, não existem motivos jurídicos para nos deter", disse. "A UE precisa respeitar a vontade de 2 milhões de pessoas", insistiu.
Meses depois de sua decisão de organizar uma votação na Catalunha sobre a independência e que abriu uma crise sem precedentes na história da Espanha democrática, Puigdemont alerta: a questão da Catalunha não será decisiva pela via judicial.
"20 meses depois de prisões e exílios, é impressionante que não se tenha entendido que isso é um problema político", disse. "Um processo que necessita menos código penal e muito de parlamento, reconhecimento, processos políticos e dialogo", afirmou.
Ele, porém, indica que se houver um dialogo, não se pode colocar pré-condições. "Não se pode ir à mesa com uma linha de impedimento. Não se pode ir renunciando de casa. Temos que ir com nosso projeto.
"Temos um projeto claro. O que não sabe é qual é o projeto espanhol, a não ser a repressão", atacou. "Seria interessante saber qual é a posição deles. Será que existem pontos em comum? Será que podemos ter acordos no futuro?", questionou.
O diálogo, segundo ele, não envolveria abrir mão de imediato de seu projeto de independência. "Não podemos renunciar nada de casa. Temos que ir com suas posições. Não é justo que, para que haja um diálogo, uma das partes renuncie desde o começo ao seu projeto", afirmou.
"Mas sabemos que, numa negociação, existe um jogo. É obvio. Dialogo é isso. Confiança, reconhecimento. Esse seria o grande passo que ainda não se deu na Espanha. E no momento não aceitou o diálogo", lamentou.
Nacionalismo
O líder independentista ainda rejeita a tese de que o nacionalismo catalão faria parte de uma onda de divisões na sociedade que poderiam ameaçar a UE.
Ele não deixa dúvidas: "existem nacionalistas muito perigosos". "Duas guerras mundiais foram feitas por nacionalismo de estado", lembrou. Mas o projeto catalão não poderia ser classificado dessa forma.
"No temos nem uma raiz étnica, nem queremos excluir, nem temos pretensões territoriais. Não temos a sensação de termos de atacar ou defender. Nossa reivindicação está vacinada da questão étnica. Quem é catalão? Quem quiser ser", disse.
"Não é algo nem de sangue e nem de solo. É da vontade. Quem quer ser catalão, que seja. Não pedimos árvore genealógica, nem propriedade na Catalunha", insistiu.
Para ele, seu movimento não debilita a UE. "Pelo contrário. A UE é a diversidade", disse. "O que debilita a UE é a tentar unificar o que é muito diverso. É tentar negar as realidades nacionais, que são muito diversas. Se não se reconhece a diversidade, a UE não pode funcionar", completou.
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