Topo

Jamil Chade

Mudanças climáticas afetarão produtividade do brasileiro até 2030

Jamil Chade

01/07/2019 07h56

 

GENEBRA – Um novo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) prevê que um aumento do stress térmico resultante do aquecimento global conduza a perdas de produtividade equivalentes a 849 mil empregos em 2030 no Brasil.

As projeções são baseadas num aumento da temperatura global de 1,5°C até ao final deste século e sugerem que, em 2030, 2,2% do total das horas de trabalho em todo o mundo serão perdidas devido a temperaturas mais elevadas.

Essa perda seria equivalente a 80 milhões de empregos a tempo integral. Isso equivale a perdas econômicas globais de US$ 2,4 trilhões.

O estresse por calor, segundo a OIT, refere-se ao calor em excesso do que o corpo pode tolerar sem sofrer comprometimento fisiológico. Isso ocorre em temperaturas acima de 35°C. O excesso de calor durante o trabalho é um risco para a saúde ocupacional, restringe as funções e capacidades físicas dos trabalhadores, a capacidade de trabalho e, portanto, a produtividade. Em casos extremos, pode levar a insolação, que pode ser fatal.

De acordo com a OIT, o sector mais afetado será a agricultura, setor que emprega 940 milhões de pessoas em todo. "Prevê-se que, até 2030, esse setor represente 60% das horas de trabalho globais perdidas devido ao stress térmico", disse a entidade. "O setor da construção também será severamente afetado, com uma estimativa de 19% das horas de trabalho globais perdidas até a mesma data. Outros sectores especialmente em risco são os bens e serviços ambientais, a recolha de lixo, a emergência, o trabalho de reparação, os transportes, o turismo, o esporte e algumas formas de trabalho industrial", completou.

"O impacto do stress do calor na produtividade do trabalho é uma consequência grave das mudanças climáticas, que se junta a outros impactos adversos, como a alteração dos padrões de chuva, a subida do nível do mar e a perda de biodiversidade", afirmou Catherine Saget, Chefe de Unidade do Departamento de Investigação da OIT e uma das principais autoras do relatório.

"Para além dos enormes custos econômicos do stress do calor, podemos esperar mais desigualdade entre países de baixo e alto rendimento e piores condições de trabalho para os mais vulneráveis, bem como a deslocação de pessoas", disse. "Para se adaptar a esta nova realidade, são urgentemente necessárias medidas apropriadas por parte dos governos, empregadores e trabalhadores, centradas na protecção dos mais vulneráveis", completou.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)