Topo

Jamil Chade

Com acordo Mercosul-UE iminente, Araújo viajará para capital europeia

Jamil Chade

25/06/2019 13h03

 

CNI pede que setores sensíveis levem pelo menos dez anos para serem liberalizados

 

GENEBRA – Num sinal claro de que as negociações entre o Mercosul e a União Europeia entraram em uma fase decisiva, o chanceler Ernesto Araújo desembarca nesta quarta-feira em Bruxelas para uma reunião ministerial que pode finalmente fechar um dos maiores tratados comerciais do mundo, depois de 20 anos de negociações.

Desde sexta-feira, diplomatas e negociadores já estavam trabalhando na capital europeia. Mas apenas se houvesse uma aproximação das posições é que ministros seriam convocados, o que acabou ocorrendo.

O chanceler vai se juntar à ministra de Agricultura, Teresa Cristina, e os encontros com os europeus terão início na quinta-feira.

A ideia dos negociadores é de que, até o início do encontro entre os ministros, apenas cinco temas estejam pendentes. Seriam assuntos que apenas poderiam ser desbloqueado por uma decisão política.

O motivo de resumir a agenda a cinco tópicos tem ainda outro motivo. Na sala de reuniões, estarão autorizados apenas os ministros, acompanhados cada um deles por apenas um embaixador ou negociador.

No centro do debate estará a agricultura. O Mercosul já ofereceu uma ampla abertura de seu mercado industrial aos europeus e, agora, quer uma contrapartida para poder indicar aos exportadores do bloco que o acordo também é favorável a eles. Por enquanto, porém, as contas são consideradas como insuficientes no setor de carnes e de açúcar.

Num comunicado, a chancelaria do Paraguai foi ainda mais explícita ao anunciar a ida de seu chanceler, Luis Alberto Castiglioni, para Bruxelas. Segundo Assunção, o que estará sobre a mesa dos ministros será a cota que se oferecerá para carnes, produtos lácteos e açúcar.

Os paraguaios indicam que um eventual acordo mostrará que o Mercosul está "se abrindo ao mundo".

Quanto ao Mercosul, o bloco teria oferecido uma ampliação de suas cotas para o queijo europeu, passando de 5 mil toneladas por ano para 10 mil.

Carta a Bolsonaro

Do lado da indústria brasileira, a aproximação  de um acordo também levou a Confederação Nacional da Indústria a enviar uma carta ao presidente Jair Bolsonaro no final de abril, solicitando que certos aspectos fossem considerados num acordo final.

O texto garante que a CNI "apoia a conclusão de acordo entre Mercosul e União Europeia" e indica que o tratado seria um "caminho para maior inserção do Brasil no mercado internacional".

Apesar de reconhece os efeitos positivos para a economia, a entidade alerta que o governo tenha atenção para "temas estratégicos para a indústria, que ainda são alvo de resistência dos europeus".

Para os bens sensíveis, a entidade pede setores sensíveis tenham um período de pelo menos dez anos para se adaptar, com alguns deles se beneficiando de até 15 anos. O governo brasileiro já havia sinalizado aos europeus com uma concessão, reduzindo essa moratória no corte.

Um dos pontos é o estabelecimento de regras de origem que favoreçam a entrada do Brasil em cadeias de valor e ao mesmo tempo contribuam para o investimento estrangeiro no país.

Outro aspecto apontado pela CNI como positivo é a inclusão no acordo do mecanismo de drawback, além da não inclusão de produtos remanufaturados.

O setor industrial pede ainda a "liberalização do transporte marítimo de cargas" e que as regras em compras públicas e propriedade intelectual "respeitem políticas de impacto social no Brasil".

Para o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi, o acordo terá um impacto importante para o Brasil e o fato de a abertura ser gradual para alguns setores facilita na adaptação. Segundo ele, a UE é hoje o segundo maior destino das exportações brasileiras e, com o bloco, o País mantém um superavit de US$ 7,4 bilhões.

 

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)