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Jamil Chade

Avanço em negociação dá esperanças de acordo final com UE

Jamil Chade

24/06/2019 17h38

 

GENEBRA – 20 anos depois do início de um processo marcado por frustrações, negociadores do Mercosul estão, de forma irreconhecível, animados com a possibilidade real de um acordo comercial com a UE, ainda nesta semana.

Ao final dos encontros técnicos desta segunda-feira, quatro fontes diferentes da diplomacia do Mercosul confirmaram ao blog que o processo está caminhando de forma "satisfatória" e que já se prevê uma eventual reunião ministerial entre os dois blocos a partir de quinta-feira, em Bruxelas.

O martelo não está batido. Mas um sinal claro do avanço foi a decisão de alguns dos negociadores e ministros que não estavam na Europa de embarcar às pressas para Bruxelas nesta segunda-feira.

A esperança é de que, se uma convergência for obtida entre terça-feira e quarta-feira, os ministros poderão desenhar um acordo final, principalmente estabelecendo as cotas para os produtos agrícolas.

Se isso ocorrer, quem quer fazer o anúncio é Maurício Macri, presidente da Argentina e presidente pró-tempore do Mercosul. Ele participa da cúpula do G-20 e terá um encontro bilateral com o presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker.

O anúncio tem, segundo fontes em Bruxelas, um claro componente eleitoral e uma tentativa de demonstrar, internamente, sua relevância internacional.

Para que os impasses fossem superados, porém, Macri e o governo de Jair Bolsonaro fizeram concessões e aberturas que por anos foram considerados como "linhas vermelhas" da diplomacia do Mercosul.

No setor automotivo, de proteção de propriedade intelectual e no setor industrial, o bloco sul-americano aceitou uma mudança da estrutura tarifária inédita.

Em troca, porém, as cotas que vem recebendo dos europeus são iguais ou até inferiores a volumes que foram sugeridos por Bruxelas em 2004. Naquele momento, o processo entrou em colapso diante da recusa do Brasil de aceitar os valores oferecidos para a exportação de carnes, açúcar, certos produtos agrícolas e etanol.

No setor privado, há um temor de que, por motivos políticos, o que por anos foi barganhado com cuidado seja simplesmente entregue, sem uma contrapartida substancial.

Do lado europeu, o bloco continua sofrendo a resistência do setor agrícola. Mas, internamente, negociadores admitem que jamais viram sobre a mesa uma oferta tão "generosa" da parte do Mercosul.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)