Agricultores da UE protestam contra Mercosul. Brasil critica protecionismo
GENEBRA – Diante da iminência de um acordo entre Mercosul e União Europeia, agricultures do Velho Continente proliferam declarações e protestos contra a abertura do mercado europeu aos produtos sul-americanos.
Na Irlanda, na Espanha e outras partes da Europa, cooperativas e entidades tem se mobilizado para tentar impedir o entendimento.
Nesta segunda-feira, em Dublin, a Associação de Fazendeiros da Irlanda colaram cartazes e fizeram um ato diante dos escritórios da Comissão Europeia contra o acordo. Nas mensagens, eles acusam o bloco de estar "entregando" o setor agrícola ao Mercosul. O temor dos fazendeiros é de que, com a concorrência da carne sul-americana, vários produtores seriam afetados.
No mesmo dia, as Cooperativas Agrícolas da Espanha emitiram um comunicado, alertando também para um impacto negativo do acordo. Segundo a entidade, o Mercosul exporta por ano 18 bilhões de euros para o mercado europeu no setor de alimentos, mas apenas importa 2,2 bilhões de euros.
Dinossauros
Depois de 20 anos de um processo turbulento, a negociação entre Mercosul e UE entra em seu momento decisivo. Nesta semana, em Bruxelas, diplomatas dos dois blocos estão reunidos para tentar superar as diferenças e, assim, fechar um dos maiores acordos comerciais do mundo.
Se houver uma aproximação entre Mercosul e UE, uma reunião ministerial será convocada para quinta-feira, na esperança de que o acordo final possa ser fechado.
Mas ha também a pressão na UE daqueles que querem um acordo. Numa carta enviada na semana passada ao bloco, a chanceler alemã Angela Merkel e outros seis chefes-de-estados apontaram para seu apoio ao processo e indica que um eventual acordo mandaria uma mensagem forte contra o protecionismo no mundo.
Num editorial nesta segunda-feira, o jornal Financial Times também destacou a importância do acordo. Mas, por conta do longo processo de 20 anos, classificou o processo como uma "caça aos Mercosaurus".
Populismo
Em Roma, num discurso na FAO, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, atacou o protecionismo dos países ricos. Ela defendeu "promoção de um comércio internacional livre e justo".
O protecionismo em países desenvolvidos tem ameaçado a viabilidade de uma revolução verde em países em desenvolvimento, por expô-los à competição injusta de bens subsidiados e por negar acesso a mercados consumidores importantes", disse. "Um comércio agrícola de fato livre e justo permitiria, sem dúvida, a disseminação de melhoria das condições no campo, onde está concentrada a maior parte da pobreza no mundo. Desencadearia, ademais, um ciclo virtuoso, em que maior produção descentralizada garantiria maior acesso a alimentação e nutrição adequadas", declarou.
Ela ainda atacou o que chamou do "abandono" por parte dos países ricos de "princípios baseados em ciência na regulação da produção e do comércio de alimentos"
"Ao desinformar consumidores, ceder a grupos de pressões e se afastar das regras multilaterais, certos atores importantes prejudicam os mesmos objetivos que dizem proteger: o desenvolvimento dos mais pobres; o acesso democrático a alimentos de qualidade; e a preservação do meio ambiente", criticou.
"Com o atual sistema baseado em regras sendo continuamente testado pelo poder daqueles estados nacionais aderentes a um populismo regulatório, o Brasil está absolutamente convencido da necessidade de preservar o princípio científico na regulação do comércio internacional de insumos e alimentos", disse.
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