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Jamil Chade

Morte de Khashoggi foi “deliberada e premeditada” pela Arábia Saudita

Jamil Chade

19/06/2019 07h27

Para relatora da ONU, existem indícios que justificam uma investigação suplementar sobre a responsabilidade do príncipe herdeiro

 

GENEBRA – A morte do jornalista Jamal Khashoggi foi conduzida pelas autoridades da Arábia Saudita, num ato "deliberado e premeditado". Esse é o resultado de uma investigação realizada pela ONU, publicado nesta quarta-feira, e que sugere "sanções" focadas contra o regime em Riad.

Agnes Callamard, relatora que se ocupou do caso, disse que Riad é responsável por um "assassinato extra-judicial" e sugere que o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, seja alvo de uma investigação.

Khashoggi foi morto depois de entrar num consulado saudita, em outro de 2018. Mas por semanas o governo de Riad negou qualquer relação. A relatora da ONU não conclui de forma definitiva que a responsabilidade é do príncipe herdeiro. Mas alerta que existem "evidências com credibilidade" do envolvimento da cúpula do governo e insiste que uma investigação deve ser realizada para determinar o envolvimento do representante da família no poder.

"Existem elementos de provas que justificam uma investigação suplementar sobre a responsabilidade individual de altos funcionários sauditas, incluindo o príncipe herdeiro", declarou.

O governo saudita insistem que Bin Salman jamais esteve implicado no caso. Mesmo que a operação que resultou na morte do jornalista tenha envolvido 15 pessoas enviadas pelo governo, alguns dos quais próximos ao príncipe.

Assassinato

O informe ainda explica o que ocorreu com Khashoggi. Ao entrar no consultado, ele recebeu um sedativo e foi sufocado por um saco de plástico.

O audio obtido pela ONU daquele momento indica que o jornalista era informado que seria levado para a Arábia Saudita.

"Teremos de ter levar de volta. Há uma ordem da Interpol", disse

Neste momento, o jornalista insistiria que não havia um caso contra ele e alegou que existiam pessoas que o aguardavam fora do consulado.

Por alguns minutos, os sauditas recomendaram Khashoggi a escrever uma mensagem ao seu filho. Mas o processo foi interrompido.

Neste momento, o jornalista notaria que havia uma toalha no local. "Vocês me darão drogas?", perguntou.

"Vamos te anestesiar", ouviu.

Neste momento, uma luta pode ser ouvida e um dos sauditas pergunta se o jornalista já teria desmaiado. "Continue pressionando", afirmou um deles.

Segundo a relatora, a cena do crime foi "limpa" e insistiu que os sauditas tentaram obstruir investigações.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)