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Jamil Chade

Por contatos ilegais, procuradores são afastados de investigação...na Suíça

Jamil Chade

18/06/2019 11h43

Reuniões não registradas e troca de SMS foram descobertas entre procuradores e pessoas envolvidas no processo. Um dos atingidos dirigia também a Lava Jato, em Berna. Ele, porém, mantém esse dossiê. 

 

 

Procurador-geral da Suíça, Michael Lauber, é acusado por advogado de reu na Lava Jato. Foto: Jamil Chade. Maio de 2019

 

GENEBRA – O procurador-geral da Suíça, Michael Lauber, e outros dois procuradores foram afastados das investigações relacionadas com a corrupção na Fifa. A decisão foi tomada pelo Tribunal Federal da Suíça que, depois de avaliar duas queixas, julgou que os implicados não poderão continuar a fazer parte do inquérito iniciado em 2015.

Lauber é também responsável pelas investigações sobre a Lava Jato. Mas a decisão anunciada não afeta essa dimensão de seu trabalho.

O caso teve início quando a imprensa revelou encontros não declarados entre Lauber o presidente da Fifa, Gianni Infantino. A realização das reuniões não é proibida. Mas precisam ser protocoladas e registradas.

Um procedimento disciplinar foi aberto contra o procurador. Mas, ao mesmo tempo, duas queixas foram apresentadas ao tribunal local. O resultado foi a constatação de que as ações de Lauber, por sua falta de transparência, colocaria em dúvida sua imparcialidade.

A queixa havia sido aberta por Jerome Valcke, ex-secretário-geral da Fifa e afastado do futebol por suspeitas de irregularidades.

A corte também constatou que, sem a revelação feita pela imprensa, os contatos fora do padrão por parte do procurador-geral jamais teriam sido conhecidos. Isso minaria um processo justo.

Ao se defender, em uma coletiva de imprensa no mês passado, Lauber garantiu que não via motivos para pedir sua demissão.

Um ex-procurador, Olivier Thormann, também foi afastado. Além dos encontros com a direção da Fifa, ele trocou SMS com um dos chefes do Departamento Jurídico da entidade. Essa troca de mensagem, na avaliação dos juízes, "ultrapassam em grande medida o quadro formal de regras fixados". A corte também estimou que tais mensagens "deixam transparecer uma separação pouco clara e precisa entre ações profissionais e contatos privados".

O procurador já havia sido suspenso pelo próprio Lauber, diante das revelações. Mas acabou sendo eleito juiz da corte de apelação.

Um terceiro procurador também foi afastado. Markus Nyffenegger, responsável pelo dossiê Fifa, é acusado de saber dos contatos informais e "poderia ter usado esse canal de informação fora das regras previstas pelo código penal e sem verbalização".

 

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)