OMS defende que Brasil não reduza impostos sobre cigarros
GENEBRA – A Organização Mundial da Saúde (OMS) defende que o governo de Jair Bolsonaro não reduza os impostos sobre cigarro e alerta que evidências científicas provam que a tributação e preços elevados ajudam a reduzir o consumo de tabaco. Num comunicado enviado ao UOL, a OMS e a Organização Pan-americana de Saúde (Opas) também se colocam à disposição para apresentar seus dados e recomendações, se solicitados pelo governo brasileiro.
O posicionamento das entidades ocorre praticamente às vésperas da Assembleia Mundial da Saúde que, a partir do dia 20 de maio, recebe ministros de todo o mundo em Genebra para debater alguns dos principais temas da agenda internacional de saúde.
No final de março, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, criou um um grupo de trabalho para "avaliar a conveniência e oportunidade de redução da tributação de cigarros fabricados no Brasil". O objetivo seria o de examinar a atual tributação e "diminuir o consumo de cigarros estrangeiros de baixa qualidade, o contrabando e os riscos à saúde dele recorrentes".
A partir de 2011, o governo brasileiro passou a incrementar os impostos sobre o cigarro, uma prática sugerida por especialistas e por entidades internacionais como forma de reduzir o consumo de tabaco.
Mas a pressão das empresas também tem aumentado contra esses impostos, alegando que o sistema estaria apenas criando um mercado paralelo de cigarros contrabandeados.
A avaliação da OMS e Opas é outra. "Aumentar os impostos e preços sobre o tabaco é a maneira mais efetiva em termos de custo-benefício para reduzir o uso de tabaco, principalmente entre os jovens e as pessoas pobres", indicou o comunicado das principais entidades de saúde.
"Evidências científicas têm mostrado que um aumento de impostos que eleve o preço do tabaco em 10% reduz, em média, o consumo de tabaco em cerca de 4% nos países de renda mais elevada e em 5% em países de renda média e baixa", explicam.
"A OMS e a Opas entendem que o governo brasileiro criou um grupo de trabalho para avaliar, entre outras coisas, se uma redução de impostos sobre o tabaco poderia levar a uma redução do contrabando de cigarros", disseram.
"Dado o progresso feito no Brasil nos últimos anos, com mais de 50% de queda da prevalência do fumo, acreditamos que o País deve continuar no caminho e não reduzir os impostos de tabaco para continuar a implementar de forma efetiva as políticas de controle de tabaco", defendem.
Segundo eles, essas políticas fazem parte da Convenção sobre o Controle de Tabaco da OMS, da qual o Brasil faz parte desde 2005. A negociação do tratado, de fato, foi presidida pelo embaixador Luis Felipe Seixas de Correa, sogro do atual chanceler, Ernesto Araújo.
As entidades ainda sugerem o envolvimento direto do Ministério da Saúde no processo. Segundo eles, a pasta tem "um papel importante em articular e mobilizar um esforço multi-setorial sobre o controle do tabaco e pode apoiar o grupo de trabalho com informações baseadas em evidências". Tanto a OMS como a Opas se dizem dispostas a apresentar evidências e compartilhar experiências sobre isso ao grupo criado por Moro, se solicitados.
O ministro da Justiça chegou a declarar que, se a conclusão dos estudos apontasse que a queda de impostos aumentaria o consumo, tal política seria evitada.
Contrabando
A OMS também lembra que, se a questão é lutar contra o contrabando, mecanismos já existem para que tal objetivo seja cumprido.
"Em 2018, o Brasil ratificou o protocolo para eliminar o comércio ilícito de produtos de tabaco, um instrumento poderoso que pode ajudar o país a combater a entrada ilegal de produtos de tabaco", recomendou a agência de Saúde.
"O conteúdo do protocolo foi revisado e negociado com o Brasil e outros estados com base em evidências internacionais", disse, lembrando que tanto o cigarro legal como o ilegal são "letais".
"É importante destacar que a experiência de muitos países demonstra que o comércio ilícito é fundamentalmente uma questão de governança e de aplicação, e pode ser lidado de forma positiva, mesmo quando os impostos e preços de cigarros são elevados, resultando em um aumento de receita tributária e queda no uso de tabaco", defendeu.
De acordo com a OMS, estratégias de sucesso no combate ao contrabando incluem a criação de um sistema de monitoramento, o controle das cadeias de fornecimento, aumentar as penas e uma cooperação internacional nas investigações contra grupos criminosos.
"O Brasil deve ir adiante em implementar medidas efetivas para eliminar o comércio ilícito de tabaco e estabelecer ações de cooperação, como é orientando pelo protocolo para eliminar o comércio ilícito", defenderam as entidades.
Tanto a Opas como a OMS afirmam que querem "apoiar o país em seus esforços para entender o tamanho e as características do comércio ilícito para dar informações estratégicas para políticas públicas de controle do cigarro no Brasil".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.