“Esse é o nosso hemisfério”, alerta governo Trump
Crise na Venezuela reabre debate entre "zonas de influência" de EUA e Rússia
GENEBRA – "Esse é o nosso hemisfério". A declaração foi realizada na manhã desta quarta-feira por John Bolton, assessor de segurança da Casa Branca. A frase era uma resposta à ingerência russa nos assuntos venezuelanos e um alerta de que tal postura não seria tolerada. "Não é onde Rússia deve interferir. Isso é um erro da parte deles", completou.
Para além dos interesses de países sul-americanos, a crise venezuelana reabriu o debate sobre as zonas de influência entre Moscou e Washington e sobre o papel dos EUA no continente.
Em uma recente entrevista no início de março à CNN, Bolton ainda foi contundente: "nesse governo, não temos medo de usar o termo Doutrina Monroe". Ele se referia à política do presidente americano James Monroe que, na década de 1820, passou a adotar medidas para impedir intervenções europeias no hemisfério americano e em países que recém tinham obtido suas independências.
Entre fontes diplomáticas na ONU, porém, o discurso americano de que luta pela "liberdade do povo venezuelano" é recebido com ironia. Negociadores contam que a iniciativa da entidade para alimentar refugiados e imigrantes, além de venezuelanos dentro do país, está com seus cofres vazios. Apenas 25% do total solicitado pela ONU para a operação na América do Sul conseguiu ser financiada até agora.
"Se Washington estivesse tão preocupado com a situação do povo, estaria financiando os programas de ajuda", indicou uma fonte da entidade, na condição de anonimato.
Da parte dos russos, diplomatas também relatam ao UOL de que o argumento americano de que uma ação de Moscou na Venezuela não teria legitimidade é justamente o argumento que o presidente Vladimir Putin usa para atacar o envolvimento americano na Ucrânia, Geórgia ou Ossétia, consideradas como zonas de influência do Kremlin.
Na terça-feira, o governo americano havia declarado que Nicolas Maduro estava pronto para deixar a Venezuela quando mudou de ideia depois de ser convencido por Moscou. A versão foi negada pelo Kremlin, que acusa o governo americano de promover "mentiras" em uma guerra de informação para confundir a opinião pública venezuelana.
"Isso é parte da estratégia para desmoralizar o exército venezuelano", acusou a porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, María Zajárova, a CNN. O Kremlin também negou que homens enviados por Moscou estariam à disposição de Maduro para garantir sua segurança.
O embaixador de Cuba na ONU, Pedro Luis Predoso, também reagiu. "Conhecemos a história da América Latina e como os americanos atuaram na região. É para esse passado que queremos voltar?", questionou.
Dívida – Do lado de diplomatas americanos, a constatação, porém, é de que a realidade é que os venezuelanos tem hoje uma dívida de US$ 6,5 bilhões com o governo russo que, a cada debate na ONU, veta qualquer tipo de resolução contra Maduro.
Um dos últimos aliados do governo de Caracas entre as grandes economias do mundo, os russos firmaram vários acordos comerciais com a Venezuela desde 2013. Liderado pelo vice-primeiro-ministro, Igor Sechin, um dos chefes da estatal de petróleo Rosneft, o Kremlin passou a usar a criação de joint ventures para atuar na exploração de energia em território venezuelano.
Russos e venezuelanos ainda se uniram em uma joint ventura em paraísos fiscais, em um esquema que envolve as duas maiores estatais de ambos os países: Gazprom e PDVSA. Em 2012, o Gazprombank anunciou a criação da PetroZamora, na Venezuela. A nova empresa foi estabelecida em conjunto com PDVSA após empréstimo russo de US$ 1 bilhão.
O governo chavista nunca escondeu a importância do elo entre Caracas e Moscou. Em agosto de 2017, o então presidente da PDVSA, Eulogio Del Pino, demonstrava a dimensão dos acordos. "A relação entre a PetroZamora com seu sócio estratégico russo Gazprombank é tão importante que, hoje, contam com mais de 2 mil quilômetros quadrados em áreas de produção", disse Del Pino, em discurso.
A busca do regime venezuelano pelos aliados russos, segundo ele, teria um aspecto estratégico. "O comandante Hugo Chávez teve essa visão de fechar acordos com países como a Rússia, nação com a qual formamos oito empresas mistas em todo o país, que produzem mais de 250 mil barris de petróleo por dia, em uma aliança comercial e financeira perfeita", disse Del Pino. "Por isso, o imperialismo americano nos ameaça e ataca."
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