Em tempos obscuros, o dia do livro é praticamente um dia revolucionário
GENEBRA – "Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário". Poucas vezes a citação de George Orwell esteve tão adequada como neste momento em que falsos filósofos se apresentam como guias intelectuais e o acesso à informação, a censura e a desinformação foram banalizadas.
Neste 23 de abril, marca-se o dia internacional do livro. Confesso que nunca fui grande entusiasta dessas datas estabelecida por instituições distantes da sociedade, com efeitos mais que questionáveis.
Mas num período em que o óbvio parece ter se perdido por um caminho obscuro, em que a ciência é vista como uma ameaça e a arte como uma rebelião subversiva, a data ganha um novo significado.
Não por imaginar que um decreto poderia permitir uma maior venda de livros nesta data. Mas por escancarar a necessidade de dar um grito de que a ignorância não irá vingar. Um alerta de que a intolerância não será tolerada e que apenas o conhecimento poderá construir canais de diálogo.
Em Paris, a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, resumiu nesta terça-feira o papel do livro: "Nesta época turbulenta, os livros representam a diversidade da genialidade humana, dão forma à riqueza de nossas experiências, transmitem a busca pelo significado e pela expressão que todos nós compartilhamos e que fazem avançar as sociedades".
Para ela, os livros "são aliados na difusão da educação, das ciências, da cultura e da informação para todas as partes do mundo". A palavra escrita, segundo a chefe da Unesco, consegue abrir caminho "para o respeito e a compreensão mútua entre as pessoas, independentemente das fronteiras e das diferenças".
"Os livros ajudam a unir a humanidade em uma só família, compartilhando um passado, uma história e um patrimônio, a fim de construir um destino comum, onde todas as vozes são ouvidas em um grande coro de aspiração humana", completou.
No fundo, o dia internacional do livro em 2019 praticamente poderia ser batizado de dia internacional da resistência. Em tempos obscuros e quando algumas dezenas de caracteres nas redes sociais são considerados como suficientes, abrir um livro já é um ato revolucionário.
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