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Jamil Chade

"Lava Jato suíça" anuncia que ainda têm R$ 2,6 bi bloqueados

Jamil Chade

09/04/2019 04h28

Em cinco anos de investigação, Berna já devolveu R$ 1,4 bilhão ao Brasil. Mas o restante dos valores confiscados ainda pode levar anos para ser repatriado. 

 

GENEBRA – As autoridades suíças revelam que ainda têm mais de R$ 2,6 bilhões bloqueados em contas no país europeu, relativos a suspeitos de corrupção na Operação Lava Jato.

De acordo com o Ministério Público da Suíça, a cooperação com o Brasil já resultou na devolução de R$ 1,4 bilhão. Mas, cinco anos depois do início de um dos maiores casos de corrupção do mundo, a repatriação do restante ainda dependerá da conclusão dos processos, condenações e mesmo a descoberta dos verdadeiros donos de centenas de contas que ainda estão por ser investigadas.

Os dados foram anunciados nesta terça-feira, depois do encontro mantido na segunda-feira em Brasília entre o procurador-geral da Suíça, Michael Lauber, e Raquel Dodge, a procuradora-geral da República.

Durante o encontro, os dois países assinaram uma declaração se comprometendo a continuar a colaborar e até a intensificar a troca de informações.

Investigando casos relativos à estatal Petrobras, Odebrecht e políticos brasileiros, Berna admitiu que a operação é "uma das mais complexas que a Procuradoria-Geral jamais teve de lidar".

No total, mais de mil contas suspeitas foram encontradas e, ainda hoje, cerca de 70 processos criminais estão em andamento na Suíça. Dois desses processos são contra instituições financeiras suíças, suspeitas de terem ajudado brasileiros a desviar milhões de dólares e promover lavagem de dinheiro.

Desde 2014, cerca de 15 processos foram transferidos da Suíça para o Brasil, como o do ex-deputado Eduardo Cunha. A cooperação entre os dois países ainda envolveu 120 casos diferentes.

A devolução do dinheiro, porém, pode ser mais lenta que se esperava. Por enquanto, os 365 milhões de francos que voltaram ao Brasil, cerca de R$ 1,4 bilhão, se referem a valores confiscados de suspeitos que fecharam acordos de delação premiada. Nesses acordos, esses suspeitos aceitaram repatriar os recursos.

Em março de 2019, por exemplo, cerca de 9 milhões de francos suíços deixaram os bancos europeus em direção ao Brasil.

O desafio, porém, é o que fazer ainda com cerca de 700 milhões de francos suíços que continuam congelados.

Para que esse dinheiro retorne ao Brasil, os donos das contas suspeitas terão de ser julgados e condenados em última instância.

Fontes próximas ao caso admitem que esse estoque de dinheiro pode levar ainda anos para que volte ao Brasil.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)