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Jamil Chade

Brasileiros têm de pagar do bolso mais da metade da conta da saúde no país

Jamil Chade

04/04/2019 10h23

(GETTY IMAGES)

GENEBRA – A renda média de um brasileiro é bem inferior à de um dinamarquês, de um britânico ou de um alemão. Mas, a cada ano, o cidadão no Brasil é obrigado a tirar do bolso praticamente o mesmo valor desses europeus para arcar com sua saúde.

Dados coletados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que o Estado brasileiro continua a pagar por menos da metade de todo o custo da saúde no país, deixando 52% da conta para cada um de seus cidadãos.

No ano 2000, o brasileiro pagava em média US$ 436 (valor calculado em Paridade de Poder de Compra) em saúde por ano. Em 2015, esse valor subiu para US$ 786. O montante pago por um dinamarquês, porém, é de US$ 800.

A renda individual média na Dinamarca é de US$ 45 mil, contra apenas US$ 15 mil no Brasil, de acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).

Na Alemanha, a conta da saúde para cada um fica em cerca de US$ 831 por ano, contra US$ 815 no Reino Unido.

O brasileiro chega a pagar mais que um islandês, que tem uma renda média anual de US$ 46 mil, uma das mais altas do mundo.

Parte do problema está na falta de investimentos públicos. Segundo os mesmos dados da OMS, o percentual do orçamento para saúde caiu entre 2000 e 2015 no Brasil.

Em 2015, último ano em que a OMS tem todos os dados compilados para mais de 190 países, o governo brasileiro havia destinado 7,7% de seu orçamento público para a saúde. O percentual é inferior à média mundial, de 9,9%. Ela também está bem abaixo dos 12,5% registrados na Europa.

A taxa brasileira em 2015 era a menor em pelo menos 15 anos. No ano de 2000, por exemplo, 10,1% do orçamento ia para a saúde.

Em 2015, o Estado brasileiro destinou a cada um de seus cidadãos cerca de US$ 594 para a saúde. No Chile, o investimento foi de US$ 1.100. Em Cuba, o valor chegou a US$ 2.100, contra mais de US$ 4.200 na Dinamarca.

De acordo com os dados da OMS, o estado brasileiro arcava com apenas 42% dos custos da saúde no país em 2015. Em 2010, essa taxa era de 45%.

No Chile, o levantamento aponta que o estado arca com 60% dos custos da saúde, contra 66% na Colômbia, 76% na Costa Rica e 52% no México. Na Alemanha, a taxa é de 84%, contra 74% na Itália.

De uma forma geral, os gastos com saúde no Brasil –incluindo investimentos do Estado e privados– chegam a 8,9% do PIB, contra uma média mundial de 6,3%.

Em 2015 anos, o valor total subiu de US$ 880 para US$ 1.300 por pessoa por ano. Mas o montante está distante dos mais de US$ 5.000 na Alemanha ou Dinamarca, US$ 6.000 na Noruega ou mais de US$ 9.000 nos EUA.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)