Odebrecht usou contas suíças para subornar políticos e militares africanos
Um dos suspeito no governo de Angola viajou ao Brasil e chegou a assumir a posição de diretor de banco estatal
GENEBRA – Contas secretas na Suíça foram usadas pela construtora brasileira Norberto Odebrecht para distribuir milhões de dólares para o alto escalão do governo de Angola.
Os dados fazem parte de documentos oficiais dos tribunais suíços que revelam como, mesmo depois de iniciada a Operação Lava Jato, um dos membros do governo africano sob investigação, Carlos Panzo, não apenas foi mantido em seu cargo, mas até mesmo ganhou uma promoção.
Ao longo de anos, Panzo desempenhou diversas funções no gabinete e na área de finanças do ex-presidente José Eduardo dos Santos. Foi o diretor do gabinete de acompanhamento macroeconômico do Ministério da Economia em 2009, coordenador da Comissão de Gestão do Fundo Habitacional e presidente do Conselho Fiscal da Sonangol.
Em 2012, Panzo esteve em Brasília para preparar a visita do ministro angolano das Finanças, Carlos Alberto Lopes, que estaria com o então ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, e com o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Na época, ele era o diretor da Unidade de Dívida Pública do Ministério das Finanças. Oficialmente, Panzo buscava o apoio financeiro do Brasil para projetos da reconstrução do sector da energia, infra-estruturas e indústria.
Em dezembro de 2016, enquanto o Departamento de Justiça dos EUA anunciava amplas denúncias contra a Odebrecht, Panzo seria colocado como administrador-executivo do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA).
Naquele mesmo mês, o Departamento de Justiça dos EUA apontava que a Odebrecht havia pago propinas no valor de mais de US$ 50 milhões entre 2006 e 2013 para membros do governo de Angola. Em troca, ficou com contratos avaliados em US$ 261 milhões.
Panzo, porém, foi mantido no governo em Luanda. Quando João Lourenço assumiu a presidência, colocando fim às décadas de José Eduardo dos Santos, o funcionário também ganhou novos cargos. Em setembro de 2017, ele foi escolho como secretário para Assuntos Econômicos da presidência de Angola.
Mas Panzo passou a ser alvo de um processo por lavagem de dinheiro na Suíça e, em outubro, perdeu sua posição no governo. A suspeita é de que sua conta era também um local de passagem para recursos que eram redistribuídos a outros políticos africanos.
No total, os suíços descobriram uma conta em nome de uma offshore que tinha o angolano como beneficiário. Apenas por essa conta em Genebra, mais de US$ 11 milhões foram movimentados e, de acordo com a investigação, o dinheiro foi depositado pela Odebrecht.
Os depósitos foram realizados entre 2010 e 2014, por três empresas ligadas à construtora brasileira. Quando as contas foram bloqueadas, em 2017, apenas US$ 3 milhões ainda estavam depositados.
As investigações revelam que o angolano teria recebido 1,7 milhões de euros em 2013, por um contrato obtido pela Odebrecht em seu país. Um militar angolano também foi beneficiado por recursos que partiram da mesma conta. A apuração também descobriu pagamentos a partir da mesma conta suíça em 2015 a um filho de um ministro de Finanças de Angola.
Entre 2002 e 2016, o BNDES contratou US$ 4 bilhões em empréstimos com o país africano, a maioria para projetos da Odebrecht, como a construção da Hidrelétrica de Laúca. Em Angola, o BNDES financiou obras como a Barragem Hidrelétrica de Cambambe, Projeto "Vias de Luanda", Praça da Paz em Luena, Programa de Realojamento das Populações no Zango, Estrada Catata-Lóvua.
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