Protecionismo e enfraquecimento da OMC custariam R$ 25 bi para Brasil
GENEBRA – A proliferação de medidas protecionistas pelo mundo e o enfraquecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC) levariam a uma perda anual de mais de R$ 25 bilhões para a as exportações brasileiras. O alerta faz parte de um estudo realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), alarmada pela crise que afeta hoje o multilateralismo.
A estimativa, obtida com exclusividade pelo blog, é de que o custo das exportações brasileiras aumentaria 120% num cenário de fracasso da OMC.
Nos últimos dois anos, a entidade com sede em Genebra passou a ser alvo de uma campanha do governo de Donald Trump. A Casa Branca esvaziou os tribunais da OMC e exige reformas profundas para que a organização volte a ter um papel na definição do comércio internacional.
Roberto Azevedo, diplomata brasileiro que dirige a OMC, vem tentando navegar por um cenário dos mais dramáticos. Se de um lado ele precisa preservar o sistema multilateral, ele também é forçado a fazer concessões para evitar uma retirada total dos EUA de sua entidade.
Sem os parâmetros da OMC, porém, o setor privado brasileiro teme perdas importantes.
Entre 1995, ano de criação da OMC, e 2017, as tarifas médias de importação aplicadas pelos países do G-20 caíram de 11% para 5%. Mas, de acordo com o novo levantamento, se os impostos de importação voltarem ao patamar pré-OMC a partir do enfraquecimento da instituição, os exportadores brasileiros passariam a pagar US$ 6,3 bilhões a mais em impostos nas vendas para os países do G-20.
"O enfraquecimento da OMC tem um resultado desastroso para o Brasil. Vamos regredir décadas no comércio internacional. Apenas as exportações para a América do Sul, com quem o Brasil possui acordos de livre comércio, não seriam oneradas", alerta o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi.
Pela projeção, o Brasil teria de aumentar seus pagamentos de impostos em US$ 2,4 bilhões ao exportar para a China. No caso da Índia, o aumento seria de US$ 1,1 bilhão. O cenário ainda prevê custos de mais de US$ 1 bilhão para a União Europeia e US$ 540 milhões para os Estados Unidos.
Protecionismo – De acordo com a CNI, a realidade é que as tarifas já começaram a subir. "A guerra comercial entre Estados Unidos e China elevou imposto de importação em até 25% para mais de 3 mil produtos, a União Europeia impôs tarifas de 25% para importações de pelo menos 26 produtos siderurgicos", indicou.
A Turquia, em retaliação a política americana de proteção do seu aço e de seu alumínio, elevou a tarifa de bens estratégicos, como carros, que passou a pagar 120%, bebidas alcoolicas (140%) e tabaco (60%).
A CNI estima que "o aumento do protecionismo e do unilateralismo sobre políticas comerciais, a queda do crescimento do comércio mundial e o aumento da concentração na participação das exportações põem a OMC numa crise sem precedentes".
"Para o setor privado, é essencial que a OMC se fortaleça, porque é o órgão máximo para garantir a estabilidade e a previsibilidade de regras necessárias para as empresas que atuam no comércio, investem, geram emprego e renda", indicou.
"O setor privado vem acompanhando a deterioração do sistema multilateral de comércio, com práticas arriscadas de "empobrecer o vizinho", com queda no fluxos de comércio mundial, menores taxas de crescimento econômico e menos desenvolvimento econômico", alerta a CNI.
"O indicador de comércio da OMC aponta para um crescimento mais lento no primeiro trimestre de 2019. Os indicadores de ordem de exportação, frete aéreo internacional, produção e venda de veículos, componentes eletrônicos e matérias-primas agrícolas estão abaixo da tendência histórica", completa.
Como forma de lidar com a crise, a CNI e a Câmara de Comércio Internacional (ICC) decidiram se rir a organizações empresarias dos Estados Unidos, México, União Europeia e países do Mercosul para lidar com a nova realidade.
Nesta terça-feira, em São Paulo, os especialistas se reúnem para avaliar e sugerir caminhos para a reforma da OMC. Entre os especialistas convidados está Richard Baldwin, professor de economia internacional no Instituto de Pós-Graduação em Estudos Internacionais e de Desenvolvimento em Genebra. Jeffrey Schott, membro sênior do Instituto Peterson de Economia Internacional para políticas comerciais e sanções econômicas, também estará presente, assim como o chefe de gabinete da OMC, Tim Yeend, e o diretor de política global da Câmara de Comércio Internacional, Nikolaus Schultze.
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