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Jamil Chade

Sem acordo, Brexit traria ganhos anuais de 1,7 bi de euros para Brasil

Jamil Chade

26/03/2019 06h18

No divórcio mais caro da história, o Brasil pode ficar com os discos. Marcada por incertezas e capítulos inesperados, a saída do Reino Unido da União Europeia traria benefícios comerciais para o País. No caso de um "Hard Brexit", em que um acordo de separação não fosse encontrado em Londres e Bruxelas, a economia brasileira poderia ganhar até 1,7 bilhão de euros por ano.

A avaliação faz parte de um estudo realizado pelo instituto alemão Bertelsmann Stiftung, usado hoje como referência para medir o impacto da separação na Europa. A lógica é simples: com o fim dos acordos de livre comércio entre os dois lados do Canal da Mancha, produtos ingleses passariam a pagar impostos para entrar no mercado europeu. O mesmo ocorreria com as exportações europeias para a ilha.

O cenário deixado por essas novas tarifas representaria uma oportunidade de ganhos para as exportações brasileiras, já que passariam a concorrer de igual para igual com os produtos ingleses e europeu.

O Brasil não é o único beneficiado. A economia da Índia teria ganhos de 2,1 bilhões de euros, contra 5,2 bilhões para a China. Mas, de acordo com o levantamento, o verdadeiro de ganhador do fracasso de um acordo no Brexit seria a economia dos EUA. O benefício com as novas exportações poderiam chegar a 13 bilhões de euros.

Do outro lado do oceano, o levantamento revela que, seja qual for o formato que o Brexit tomará, a Europa sai perdendo. E muito.

Por ano, o custo do divórcio pode ser de 40 bilhões de euros para o bloco. Com as novas tarifas, produtos europeus não teriam a mesma competitividade no mercado britânico, um dos mais ricos do mundo. Só a Alemanha teria um impacto de 10 bilhões de euros, contra 8 bilhões no caso da França.

Do outro do Canal, a economia do Reino Unido perderia ainda mais: 57 bilhões de euros por ano. Um empobrecimento de 900 euros por pessoa. Só a região de Londres registraria um impacto de 5 bilhões de euros.

"As regiões mais afetadas são tipicamente aquelas com a indústria mais forte, como o setor automotivo em países como Alemanha, Espanha ou Itália", explicou Dominic Ponattu, responsável pelo estudo.

Suave – Mesmo que europeus e britânicos cheguem a um acordo e que o divórcio seja realizado dentro de um entendimento, o levantamento alerta que todos perderiam. Salvo aqueles fora do bloco.

Para o Brasil, os ganhos seriam de cerca de 900 milhões de euros por ano. Para a UE, porém, as perdas seriam de 22 bilhões de euros por ano.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)