Presidente, seria mais adequado o sr. comemorar o 1o de abril
Senhor presidente, quando ouvi que foi determinado pelo seu gabinete que sejam realizadas "as comemorações devidas com relação ao 31 de março", quando o golpe de 1964 completa 55 anos, confesso que não me surpreendi.
Mas logo entendi que sua reação precisava ser avaliada em termos políticos. Ela não vem de forma isolada e nem num vácuo. Ela faz parte de uma guerra que o seu governo já começou e que, talvez, seja a única que conseguirá vencer: contra os fantasmas da "ameaça do comunismo". Isso tudo em 2019.
Em sua viagem pelos EUA, o senhor declarou que "por vontade de Deus", o Brasil conseguiu mudar de rumo e evitar o caminho do comunismo. Também avisou que assumiu o governo para "destruir". E, se der tempo, construir. Na ONU, sua embaixadora, Maria Nazareth Farani Azevedo, usou da mesma estratégia para atacar Jean Wyllys. Nas redes sociais, ela o "acusou" de ter feito seu discurso usando uma roupa vermelha….
Lutar contra os fantasmas garante que as atenções estejam voltadas para assuntos que, justamente por seu caráter inexistente, podem ser vencidos.
Marcar o dia da luta contra os fantasmas não apenas manda uma mensagem de crueldade. Mas reforça o sentido de uma guerra atual, mesmo que a ameaça apenas exista na cabeça de intelectuais do vazio na Virgínia e de seus seguidores no Palácio do Planalto.
Sem direção e nem plano, com sua popularidade em queda e desconhecendo o tamanho do cargo que assumiu, restou ao senhor os moinhos de vento.
O problema, senhor presidente, é que uma democracia não pode aceitar qualquer outra "comemoração" que não seja um compromisso formal de que a Justiça precisa ser feita, que os autores dos crimes sejam levados à julgamento e que o direito à verdade seja protegido.
A "comemoração devida" exigiria dar voz às vítimas, exigiria buscar os pais reais das crianças sequestradas e exigiria condenar solenemente a tortura.
Menosprezar a democracia nunca foi uma boa ideia. Muito menos numa guerra imaginária que apenas serve para encobrir a falácia de um governo.
Sendo assim, sugiro que o senhor rapidamente mude a orientação repassada – bom, não seria a primeira vez – e proponha que seus ministros e demais membros do governo comemorem também o 1o de Abril.
O senhor sabe o motivo.
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