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Jamil Chade

Fechamento da fronteira não impediu a entrada de venezuelanos ao Brasil

Jamil Chade

15/03/2019 08h46

Alto Comissariado da ONU para Refugiados estima que a população de venezuelanos no País já supera a marca de 200 mil pessoas

 

GENEBRA – Entre 200 e 250 venezuelanos continuam a cruzar a fronteira em direção ao Brasil todos os dias, apesar de o governo de Nicolas Maduro ter fechado os pontos oficiais da divisa entre os dois países há três semanas. Os dados são do Alto Comissariado da ONU para Refugiados que, nesta sexta-feira, publicou novos números da presença dos venezuelanos no País e apontou para a estratégia que tem como objetivo reduzir a pressão sobre Roraima.

De acordo com o porta-voz da agência da ONU, Babar Baloch, o Brasil recebeu mais de 200 mil venezuelanos desde 2017. 85 mil deles fizeram solicitações de asilo, enquanto outros 40 mil receberam algum tipo de visto temporário de residência.

Antes do fechamento da fronteira, em fevereiro, Baloch indicou que cerca de 500 venezuelanos a cada dia cruzava a divisa em direção ao Brasil. Com os bloqueios, esse número caiu pela metade. Ainda assim, os imigrantes e refugiados tem encontrado formas alternativas para chegar até o País.

No total, a Organização Internacional de Migrações estima que 5 mil venezuelanos continuam deixando a cada dia o país, principalmente em direção às cidades colombianas. 3,4 milhões de venezuelanos já estariam no exterior. Desses, 2,7 milhões estão na América Latina. A região ainda concedeu vistos de residência para mais de 1,3 milhão de venezuelanos.

No caso do Brasil, Baloch destaca o plano implementado pela ONU e pelo governo para ajudar a desafogar as cidades de Roraima, mais atingidas pela chegada dos imigrantes. De acordo com com ele, 5 mil venezuelanos já foram transportados de Boa Vista para 17 estados diferentes do Brasil. No total, mais de 50 cidades do País fazem parte do plano para distribuir os venezuelanos e reduzir a pressão sobre Boa Vista.

No dia 13, um avião da FAB deixou a capital de Roraima com 225 venezuelanos, que iriam para 13 diferentes cidades do País. Na próxima semanas, novos voos estão sendo planejados.

"Venezuelanos fugiram da hiperinflação, falta de comida, instabilidade política e buscaram segurança no Brasil, muitos fazendo a travessia por terra", disse Baloch. "O objetivo dos voos é o de reduzir a população nas regiões de fronteira, onde muitos venezuelanos tem vivido nas ruas e abrigos, com oportunidades limitadas", completou.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)