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Jamil Chade

Participação de mulheres no governo Bolsonaro é uma das menores do mundo

Jamil Chade

12/03/2019 12h00

Levantamento da ONU revela que composição do Executivo vai na direção contrária à tendência mundial

 

GENEBRA – Com apenas duas ministras entre 22 pastas, o governo de Jair Bolsonaro tem um dos piores índices de participação feminina no Executivo entre todos os países do mundo. Na média, a taxa internacional é de 20,7% dos ministérios ocupados por mulheres. No Brasil, o índice é de apenas 9%. Os dados foram publicados nesta terça-feira pela ONU num estudo que é realizado apenas a cada dois anos.

O levantamento também ocorre no mesmo momento em que a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, participa, em Nova Iorque, da 63ª Conferência sobre o Status da Mulher. No geral, o Brasil aparece apenas na 149a colocação e apenas 39 países tem um desempenho abaixo do brasileiro.

Bolsonaro, no dia internacional da mulher, chegou a declarar que "pela primeira vez o número de ministros e ministras está equilibrado num governo". "Cada uma das duas mulheres (ministras), equivale por dez homens", disse o presidente.

Além de Damares, a pasta da Agricultura é comandada por Tereza Cristina. A brincadeira de Bolsonaro não deixou as entidades de direitos humanos satisfeitas. Camila Asano, representante da entidade Conectas, criticou a fala num evento organizado em Genebra.

"Esse deboche mostra a dificuldade de falar do assunto de forma séria", disse. "Uma representação igualitária em posições do governo é fundamental para que a democracia seja verdadeiramente representativa e efetiva", afirmou Gabriela Cuevas Barron, presidente da União Inter-Parlamentar.

A baixa presença de mulheres no governo brasileiro vai no sentido contrário à tendência internacional. De acordo com a ONU, a participação de mulheres em postos ministeriais no mundo é o maior já registrada.

Em nove países, a taxa supera a marca de 50%, como na Colômbia, Costa Rica, França ou Canadá. No caso da Espanha, a participação feminina é de 64%. "Temos um longo caminho pela frente ainda. Mas o aumento da proporção de ministras é encorajador", declarou Phumzile Mlambo-Ngcuka, diretora-executiva da UN Woman, a agência da ONU para as mulheres.

O que também chama a atenção é que as pastas comandadas por mulheres são cada vez mais aquelas que, historicamente, estiveram nas mãos de homens. Entre 2017 e 2019, houve um aumento de 30% no número de mulheres que ocupam cargos de ministras de Defesa. Na pasta de finanças, a alta em dois anos foi de 52% e 13% de aumento no cargo de Relações Exteriores.

O Brasil de Bolsonaro, porém, vem no lado oposto do ranking e está abaixo do Paquistão, com 12% dos cargos ministeriais nas mãos de mulheres. Na Mauritânia, são 31%, contra 29% nos Emirados Árabes.

Em comparação aos Brasil, os seguintes países também contam com maior representação feminina no governo: Sudão, Camboja, Filipinas, Laos, Síria, Argélia, Gabão, Afeganistão.

 

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)