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Jamil Chade

Maduro teme aumento de pressão após encontro Trump-Bolsonaro

Jamil Chade

12/03/2019 06h47

Às vésperas de encontro na Casa Branca, representante chavista manda recado e alerta para "instrumentalização" do Brasil.

 

GENEBRA – Às vésperas da primeira viagem do presidente Jair Bolsonaro aos EUA, um dos principais nomes do governo chavista na Venezuela manda seu alerta: o Brasil está sendo instrumentalizado por Donald Trump. Quem faz a declaração é Tania Valentina Díaz, ex-ministra de Informação sob o governo de Hugo Chávez em 2010 e hoje vice-presidente da Assembleia Nacional Constituinte.

O encontro entre Trump e o presidente brasileiro está marcado para ocorrer no dia 19 de março, em Washington. No centro do debate não estará apenas a cooperação militar e comercial entre os dois países, mas também a situação da Venezuela.

O blog apurou que, entre os funcionários de alto escalão do governo de Caracas, a viagem de Bolsonaro para a Casa Branca está sendo acompanhada de perto. Fontes confirmaram que o temor em Caracas é de que o encontro sirva para endurecer a posição contra Nicolas Maduro e estabelecer algum tipo de estratégia comum para isolar e pressionar ainda mais o presidente venezuelano a renunciar.

A suspeita é de que, para dar sentido político ao encontro em Washington, Brasil e EUA anunciem medidas contra a Venezuela. "O Brasil está sendo instrumentalizado", alertou Diaz, em declarações ao blog durante sua passagem pela ONU, em Genebra.

A representante chavista, porém, alerta que um cenário de conflito armado continua nos cálculos de Caracas, ainda que os militares brasileiros já tenham deixado claro que tal estratégia não faria parte dos interesses nacionais do País. "A estratégia americana para a região é a de iniciar uma guerra de cachorros", disse a vice-presidente. "Ou seja, uma guerra para que nós, latino-americanos, nos matemos. Para que os mortos sejam brasileiros, colombianos e que não haja a necessidade de um desembarque de soldados americanos e que nenhum de seus garotos retorne em sacos de plásticos aos EUA", disse.

Para ela, a estratégia de Trump "não é apenas a de uma intervenção". "Mas a de semear uma guerra na região, entre os países da região", apontou.   Diplomatas venezuelanos relataram que o temor de um ataque não é apenas retórico.

Há poucos dias, na chancelaria venezuelana, embaixadores se reuniram para avaliar cenários de um possível conflito armado. Diaz, porém, não acredita que o governo brasileiro tenha uma posição fechada sobre como lidar com Caracas. "Nem todas as forças no poder no Brasil parecem estar de acordo com o presidente Bolsonaro", disse.

Sua avaliação é de que uma eventual intervenção levaria a América do Sul a um "caos". "Temos de nos perguntar o que ocorreria com as demais nações (da região). O que ocorreria com Colômbia, onde a paz é tao frágil? E a situação na floresta brasileira", completou.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)