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Jamil Chade

ONU pede acesso ao Brasil para avaliar situação de venezuelanos

Jamil Chade

09/03/2019 04h00

GENEBRA – O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos pediu acesso ao território brasileiro para avaliar a situação dos venezuelanos. O governo de Jair Bolsonaro concedeu o sinal verde para que uma missão de cinco funcionários internacionais cruzem a fronteira do Brasil e visitem Boa Vista e Pacaraima, cidades que registram um maior fluxo de imigrantes e refugiados.

A visita fará parte de uma missão técnica preliminar da ONU, prevista para ocorrer a partir de segunda-feira (dia 11) e que irá percorrer a Venezuela. Oficialmente, a iniciativa tem como objetivo preparar uma eventual visita da alta comissária da ONU para Direitos Humanos, a ex-presidente chilena Michelle Bachelet.

Sua eventual visita, porém, tem sido alvo de uma guerra de informações por parte tanto do governo de Nicolas Maduro como pelos aliados de Juan Guiadó, reconhecido pelo Brasil como o presidente legítimo.

"Nos Estados em que o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos não está presente é prática padrão enviar uma missão técnica preliminar e prévia à possível visita da alta comissária", explica uma nota à imprensa emitida pela ONU. "Durante a visita, a equipe se reunirá com dirigentes governamentais, representantes da Assembleia Nacional, com organizações da sociedade civil e com vítimas de violações dos direitos humanos", afirma o comunicado.

Esta semana, porém, Bachelet deixou a oposição ao governo de Maduro irritada ao alertar num discurso que a crise na Venezuela estaria sendo "exacerbada pelas sanções internacionais". Aliados de Guaidó também temem, nos bastidores, que uma visita de um sinal de que a ONU não pretende modificar sua posição e deixar de reconhecer Maduro como presidente.

O escritório do secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, insiste que não cabe à entidade reconhecer ou não um governo.

Conforme o blog apurou, porém, a equipe solicitou à missão do Brasil em Genebra que a visita fosse ampliada para o lado brasileiro da fronteira, o que fora acatado. O escritório de Bachelet alegou que, por motivos de segurança, o itinerário dos especialistas não seria divulgado.

No caso de Pacaraima, a fronteira com a Venezuela já está fechado há duas semanas. Mas, do lado brasileiro, 700 venezuelanos estão em abrigos montados pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados. Estima-se que mais outras mil pessoas estejam nas ruas cidade.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)