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Jamil Chade

Movimento de mulheres avalia se transformar em partido com cotas invertidas

Jamil Chade

08/03/2019 14h50

Ludmilla Teixeira, do grupo Mulheres Unidas Contra Bolsonaro, explica que existe um debate sobre institucionalizar o movimento para ocupar o espaço político. Homens teriam uma cota para participar do novo partido. 

 

Ludmilla Teixeira está em Genebra para participar de eventos na ONU e no Festival de Cinema de Direitos Humanos

 

GENEBRA – Uma das organizadoras do grupo Mulheres Unidas Contra Bolsonaro, Ludmilla Teixeira, afirma que o movimento iniciado em 2018 avalia se transformar em um partido político. Em entrevista em Genebra ao blog, a funcionária pública baiana não descarta preparar o grupo para pode concorrer às eleições municipais, mas admite que o debate ainda está em curso. O novo partido, segundo ela, teria cotas. Mas, desta vez, para homens.

Ludmilla não foi quem fundou o movimento. Mas, como ela disse, "acendeu o fósforo para explodir o barril de pólvora da indignação coletiva feminina". Foi a baiana quem estabeleceu uma página no Facebook para um movimento que, no ano passado, ainda ganhava forma. Quase que de forma instantânea, o site se transformou em uma central de convocação de manifestações de rua contra o então candidato Jair Bolsonaro.

A ativista, que está em Genebra para reuniões na ONU e para participar de um Festival de Cinema, alerta que existe "um real risco de retrocessos" no que se refere aos direitos já adquiridos pela mulheres no Brasil.

Segundo ela, portanto, o movimento que começou em 2018 precisa se organizar para lutar contra esses retrocessos. "A primeira etapa do movimento será o de institucionaliza-lo. Precisamos de um CNPJ, uma associação, uma ong, um partido político para representar as mulheres. De alguma forma, precisamos institucionaliza-lo", defendeu.

Atualmente, o grupo está avaliando uma mudança de nome. Uma das opções seria trocar o Mulheres Unidas contra Bolsonaro para "Mulher Unidas com o Brasil". "Mas existe uma resistência de uma parte do grupo, já que Bolsonaro conseguiu destruir tanto a imagem do patriotismo que ele se apropriou a bandeira e as cores. Portanto, há uma parcela do grupo que está indignada com o novo nome, já que acha que isso acabaria nos associando a Bolsonaro", explicou. "Mas o nosso país não pertence a um partido, a uma pessoa", defendeu.

"A vontade era de fundar um partido político, pois não queremos as cotas de 30%", disse. "Não queremos participar de cotas de partidos. Não queremos ser cotistas. Queremos ser protagonistas. Se a lei permitisse, seria um partido exclusivamente de mulheres. Mas a Constituição não permite. Então, queremos inverter a lógica e ter os homens como cotistas", contou. "Queremos fazer políticas por mulheres para mulheres", insistiu.

Ludmilla evita falar em prazos para a criação do novo partido. Mas acredita que um dos objetivos poderia ser a participação nas próximas eleições municipais.

Ela não esconde, porém, que o movimento conta com mulheres que tampouco querem isso para o futuro do grupo. "Há muita gente que associa a política à corrupção. Há uma resistência. Mas há muita gente que quer", disse.

"Eu me considero uma anarquista. Mas hoje vou para a via partidária. Presidamos organizar a luta. Queremos participar do espaço de poder para impedir projetos de leis loucos e arbitrários", explicou.

Questionada se seria candidata, ela garante que sim. "Seria", afirmou.

"O que existe é a tentativa de impôr um controle social e político da mulher", disse. "Os homens não querem discutir seus privilégios e se sentem ameaçados pela emancipação da mulher e nossa participação na política. É a tentativa de retornar a mulher para a cozinha", completou.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)